- (21) 2004-2204
 - (21) 2004-2205
 - (21) 3174-6962
 
Qual é a idade de um empreendedor?
Embora a migração de executivos para 'start-ups'venha sendo lenta, ela será inevitável nos próximos anos
Com a vinda de um grande número de investidores estrangeiros de venture  capital para o Brasil, tenho notado que muitos deles buscam empresas  nacionais com fundadores semelhantes àqueles típicos das "start-ups" de  tecnologia do Vale do Silício -jovens com menos de 27 anos, garra e  inteligência incomuns, em sua maioria com pouca experiência de trabalho,  mas com uma vontade de revolucionar o mundo.
Fora do Brasil, a preferência pelos jovens empreendedores é clara.  Investidores sabem que estes têm um apetite por grandes riscos que pode  levá-los a desenvolver um produto revolucionário (que vai gerar, por  consequência, grandes retornos financeiros).
Diferentemente de executivos com mais experiência e idade, esses jovens  ainda não têm famílias formadas e podem dedicar 110% do seu tempo ao  empreendimento. A falta de conhecimento e maturidade muitas vezes pode  ser "emprestada" por mentores ou "comprada" por meio da contratação de  executivos, ambos disponíveis em abundância no fértil ecossistema  existente no Vale do Silício.
Já no Brasil, embora tenhamos alguns casos de sucesso de jovens  empreendedores, como Romero Rodrigues, do Buscapé, e Marco Gomes, da  Boo-Box, acredito que o modelo atingirá uma escala relevante seguindo um  paradigma diferente.
Hoje, o ensino superior brasileiro na área de tecnologia é centrado em  aspectos teóricos e possui uma estrutura bastante rígida.
Formamos profissionais capacitados para as demandas atuais e já  existentes do mercado de tecnologia -aptos a trabalhar, por exemplo, em  consultorias, bancos e no setor público-, mas não para inovar. Essa  ausência de experiências práticas durante o ensino superior e de  oportunidades mais amplas para criação deve limitar o numero de jovens  empreendedores que despontarão nos próximos anos em nosso mercado.
Por outro lado, temos no Brasil de hoje uma enorme gama de oportunidade  para novos negócios. Quem preencherá essa lacuna temporária no  empreendedorismo nacional? Entendo que executivos experientes do mercado  de tecnologia brasileira. Sim, aqueles mesmos que são superados por  jovens empreendedores e suas "start-ups" do Vale do Silício (e que, a  meu ver, um dia também serão superados pelos jovens empreendedores  brasileiros).
Atualmente, temos excelentes profissionais que passaram boa parte da  última década em grandes empresas de e-commerce, provedores de acesso à  internet e portais de conteúdo. Sobreviveram à bolha e tiveram uma  experiência de "start-ups" que gerou conhecimento de mercado e de  tecnologia que os capacitou para estruturar as grandes empreitadas dos  próximos cinco anos.
Mas por que ainda estamos vendo relativamente poucas empresas lançadas por executivos experientes do mercado de tecnologia?
Entendo que ainda estamos em fase de transição, na qual o risco  percebido em começar uma "start-up" continua grande em comparação ao  benefício do status quo.
Com a franca expansão da nossa economia, e do varejo on-line, esses  executivos experientes têm se tornado profissionais cada vez mais  escassos e ainda mais cobiçados pelo mercado, levando-os a chegar a  níveis de remuneração nunca antes vistos (e quase o dobro de seus pares  no exterior). Para o executivo, deixar uma situação vantajosa por um  futuro incerto no mundo das "start-ups" é um tanto difícil, e isso gera  um processo de transição lento, que tem retido uma migração em massa e  mais acelerada.
Mas, embora a transição venha sendo lenta em razão de fatores criados  pelo nosso concorrido mercado de trabalho, ela será inevitável nos  próximos anos. O risco percebido em fazer a transição para uma  "start-up" é muito maior do que o risco real. A oportunidade que há hoje  na internet no Brasil é tanta, que a chance de sucesso de um  profissional qualificado é enorme. À medida que mais casos de sucesso  fiquem em evidência, mais desses profissionais apostarão em si mesmos e  mergulharão de cabeça em novas oportunidades, criando a massa crítica de  "start-ups" que fará o mercado brasileiro decolar.
Por outro lado, os que esperarem demais vão perder uma oportunidade  única criada por esse período de transição que vivemos hoje.